quinta-feira, 13 de março de 2014

SOMOS PENELOPES


Penelope é um garota de 25 anos que sofre com uma maldição na sua família. Ela seria completamente 'normal' se não fosse pelo focinho e orelhas de porco no lugar no nariz e das orelhas. Por causa disso ela viveu isolada e seus pais tentaram de todas as formas ajudá-la a encontrar um contra-feitiço: Um rapaz nobre, de sangue azul que se apaixona-se verdadeiramente por Penelope, pedindo-a em casamento. Não vou fazer uma resenha do livro da autora, Marilyn Kaye ou do filme estrelado pela Christina Ricci no papel da personagem principal.

Mas quando terminei de ler o livro e refleti um pouco sobre a história, percebi que eu era (e por vezes ainda sou) uma Penelope. Não tinha uma maldição que foi jogada na minha família, mas haviam partes de mim que eu gostaria esconder. Certo, Penelope vivia trancada na propriedade da família e não conhecia o mundo lá fora. Mas quando somos ainda adolescentes e vivemos no nosso mundo: casa/escola, aos poucos começamos a nos dar conta que existem outros meios de comunicação e um mundo novo lá fora, e ele parece ser tentador de conhecer. Mas você vai esconder o seu focinho de porco com um lenço?

Assim como Penelope eu quis esconder muita coisa: meu cabelo cacheado, minha estatura fora do padrão (sou muito alta), minhas unhas roídas, o fato de eu ser míope, e meu gosto pela leitura e estudos. Essa fui eu por muitos anos, até que num momento eu percebi que queria fazer parte daquele mundo, que eu achava tão cool e tão mais animado quanto o meu. Mas eu queria esconder meus defeitos, eles pareciam não se encaixar naquele lugar perfeito.

Nós todas somos Penelopes sim em algum momento de nossas vidas, e assim como a personagem precisamos nos aceitar como somos - eu precisei. Antes do amor de eros¹ vem o amor individual, aquele por si próprio. O amor pela pessoa que vemos refletida no espelho do banheiro todas as manhãs, e outros horários do dia.. O amor pelas suas opiniões e a sua filosofia sobre vida, amizade, amor, família. Amor pelos seus gostos e os sonhos que você tem. É um amor que tem que ser completo, honesto e compreendido.

Aquilo que você chama de 'defeito' não deve afastar as pessoas que você ama e as que amam você. Sabe, a sua amiga Annie está te esperando lá fora na sua vespa. E o seu príncipe encantado, talvez nem tenha um sangue azul, talvez ele seja tão simples quanto um pianista numa banda que faz bicos como faxineiro enquanto não está num show. ~Spoiler~ Se Penelope teve um final feliz? Sim. Ela amou a si mesma antes de entregar seu amor a alguém. Ela enxergou a si mesma - o que definia ela - e aceitou a maldição. Aceitou depois também quem ela era quando o feitiço foi desfeito. 

Aceitar quem somos e as mudanças pela quais passamos durante a vida é a melhor - acredito que a única - maneira de ser feliz. E fazer as pessoas ao nosso redor felizes. Seja você mesma, seja você quem for.


¹Eros: Do grego, é o conceito de amor carnal entre homem e mulher.

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