quarta-feira, 19 de março de 2014

O FIM DO INVERNO

O som que eu escuto me lembra daquela noite que eu encontrei o seu olhar no meio de uma multidão desconhecida; você era o mais gentil. Apesar de não parecer ser verdade - como eu estava acostumada com a minha sorte! E por isso eu procurei seus olhos azuis - como o céu em dias de verão -, só pra ter certeza de que eu não precisaria manter minha respiração presa. Você sorriu quando virei o rosto na sua direção, e, meu deus, eu podia sentir meu coração tetando sair do meu peito. De repente, o frio não tinha mais efeito em mim. Parecia verão aqui fora, mesmo com a neve caindo

Será que era possível? Eu podia imaginar as flores murchas desabrochando enquanto você se aproximava. O sorriso branco na minha direção por acaso, um arrepio subindo a espinha. Aquelas coisas de filmes que passam nas tardes de sábado e fazem a gente secretamente desejar ser aquela garota que encontra o garoto no final da história. Mas porque logo agora?

Eu conhecia a sua história, seu sobrenome e até a marca da roupa que você mais gostava. Eu sabia que você nunca estava sozinho, sabia que você tinha um cachorro labrador com quem você saia pra caminhar até a praia nos domingos. Eu sei que você havia sido o melhor da turma - porque eu era a segunda colocada - e que você ia pra mesma faculdade que a minha em setembro. Você tocava guitarra e bateria, tinha até uma banda que tocava nas festas da escola. Seus pais almoçavam no restaurante da minha família e seu irmão sempre pedia sorvetes de baunilha na sexta-feira depois da aula. Se me perguntassem, sabia mais da sua vida do que qualquer palavra trocada.

E quando vi a sua silhueta passar por mim rodeada de tantas outras eu suspirei aliviada - com um peso no meu estômago, pelas borboletas que eu matei naquele instante. Ora eu não havia chamado elas, pensei. Tomei a bebida quente em minhas mãos em um gole, queimando a gargante e tentando esquecer a sensação que me assombrava desde aquele momento. Deve ser somente o espírito de fim de ano me deixando mais amolecida. Me fazendo acreditar que coisas piegas poderiam acontecer, como nas músicas da Taylor Swift. Besteira, pensei de novo. De repente o frio me atingiu e eu me refugiei dentro do salão de festas, longe dos olhares e perto da lareira acessa com madeira. 

Espanei o pouco da neve do casaco e aqueci minhas mãos, saboreando a visão do fogo que me lembrava dos dias de verão. Não demorou muito, um barulho da porta rangendo me fez levantar assustada e piscar os olhos sem acreditar no que eu via. Eram seus olhos gentis encontrando os meus, no momento que tocava minha música preferida. Você pediu licença e se apresentou - de novo - e eu fiz o mesmo. Eu não poderia imaginar que depois desse momento eu não esqueceria mais essa noite. Eu me pergunto agora se eu sabia que estava acontecendo, bem ali; bem comigo.



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